RUÍNAS DE MURUCUTU (1976)
O documentário Ruínas de Murucutu (1976), dirigido pelo cineasta Ivan Cardoso, é um importante registro das ruínas do engenho, com destaque para Capela Nossa Senhora da Conceição (1711), construção atribuída a Antônio Landi, que faleceu no próprio engenho. Para além disso, a produção também apresenta o depoimento de Eduardo Galvão, antropólogo referência na produção teórica sobre o fenômeno de aculturação e formulação de políticas indigenistas no Brasil.
O filme Ruínas de Murucutu é um documento sobre processos de transformações culturais no contexto urbano de Belém, de formação da cultura cabocla paraense como reflexo do legado indígena ancestral. Com cerca de 10 minutos de duração, o filme apresenta raras imagens do cotidiano de Belém, com suas avenidas, o mercado do Ver o Peso e cenas do subúrbio com favelas de palafita. A trilha sonora está em sincronia com as questões centrais da produção audiovisual e composta por gravações populares da época, que nos remetem à uma viagem no tempo histórico de Belém.
O antropólogo estruturalista Claude Lévi-Strauss assistiu ao filme “Ruínas de Murucutu” na Cinemateca Francesa, em Paris e fez o seguinte comentário: “por trás da beleza do caboclo, se vê o passado dourado dos indígenas”. O depoimento de Eduardo Galvão versa sobre nossos processos de aculturação, de transformação cultural da população indígena em cabocla amazônida! De tal forma que, o indígena não pode ser tomado apenas como receptor do fenômeno cultural, desconsiderando a reafirmação cultural como forma de manter a condição do indígena enquanto tal.

Eduardo Galvão obteve doutorado na Universidade de Columbia com tese publicada no Brasil com título “Santos e visagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas (1955)”. Neste texto, Galvão realiza um estudo sobre a cultura cabocla no Pará, na região próxima à foz do rio Amazonas, focando em seus aspectos religiosos e em sua formação influenciada pela cultura ameríndia local. Por sua vez, o cineasta e fotógrafo Ivan do Espírito Cardoso Filho, nasceu no rio de Janeiro em 1952 e realizou diversas produções, incluindo o filme “Museu Goeldi”, gravado também em 1974.
Na trilha de abertura, Tony pergunta à cantora Cely Campello onde ela vai essa noite e ela responde: “Essa noite, eu vou estudar história”. Alfaiates, pescadores, trabalhadores do Porto do Sal e feira do Ver o Peso, destaque naquele contando com bolo de notas na Pedra do Peixe, ao som frenético do carimbó Tucandeira! Segue o passeio na feira e cenas urbanas de Belém, no chamado período “Desenvolvimentista na Amazônia” pelos Governos Militares.
Passam em cena, mulheres e crianças, no cenário da população ribeirinha vivendo em palafitas, enquanto narrador afirma: “é possível distinguir o ponto que o índio vem aderindo e se transformando num caboclo e até o ponto que ele é exterminado fisicamente. Porque se a gente dá ao colono recente esse direito de uma gleba, porquê a gente não pode dar ao índio isso? Apenas no caso, essas sociedades indígenas a coisa teria que ser comunal e não uma distribuição individual de glebas”.
Estamos no Murucutu em Retomada Ancestral. Leila:
I CARTA AOS POVOS SOBRE O TERRITÓRIO MURUCUTU
Por Angelo Madson Tupinambá
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